O Censo Escolar de 2024, divulgado recentemente pelo Ministério da Educação, trouxe dados que apontam avanços relevantes na #inclusão e na #diversidade da educação básica brasileira. Um dos números que mais chamaram a atenção foi o aumento expressivo nas matrículas da Educação Especial: entre 2020 e 2024, o crescimento foi de 58,7%, com destaque para o ensino fundamental, que concentrou o maior volume de estudantes. A educação infantil também registrou um salto importante nesse período — o número de crianças com deficiência matriculadas cresceu 250% nas creches e 235% na pré-escola.
Outro dado inédito revelado pelo Censo, e destacado em reportagem da Agência Brasil, é o perfil étnico-racial das crianças atendidas nas creches públicas e privadas do país. Pela primeira vez na história, a proporção de crianças negras (pretas e pardas) superou a de crianças brancas: em 2023, elas representaram 40,2% das matrículas, enquanto as brancas somaram 38,3%. O resultado reflete não só uma mudança demográfica, mas também os impactos de políticas públicas que vêm buscando ampliar o acesso à educação desde os primeiros anos de vida.
No entanto, apesar dos avanços que os números aparentam revelar, é preciso olhar com mais cuidado para o que eles não mostram. O aumento das matrículas na educação especial, por exemplo, está diretamente ligado à maior capacidade diagnóstica — hoje se identifica mais casos de deficiências e transtornos. Isso não necessariamente significa que a inclusão esteja sendo feita de forma plena e qualificada. A matrícula é só o primeiro passo de uma jornada que, na prática, ainda apresenta muitas falhas: formação precária de professores e funcionários, ausência de adaptações nas atividades e no conteúdo das aulas, desconhecimento sobre como agir diante de crises, surtos ou sintomas específicos, além de casos frequentes de bullying, evasão escolar e práticas discriminatórias.
O mesmo vale para os dados sobre o avanço da presença de crianças negras nas creches brasileiras. Embora seja simbólico que, pela primeira vez, a proporção de crianças negras tenha superado a de brancas, essa mudança demográfica ainda está longe de representar uma reparação histórica efetiva. A presença não garante, por si só, condições igualitárias. Crianças negras continuam sendo as mais afetadas por contextos de vulnerabilidade social, por violências institucionais e pelo racismo estrutural, que se expressa na escola de múltiplas formas.