Mesmo independentes, nos perdemos pelo outro?

Redação àflordapele

bruna@bvcomunicacao.com.br

A enfermeira M. B., 55, vive um dilema entre questões pessoais e profissionais. Casada há 20 anos, ela não recebe do marido o apoio necessário para retornar ao mercado de trabalho. “Ele não aceita que eu trabalhe sem carteira assinada. Quando atuei em uma cooperativa de saúde, ele boicotou meu trabalho, dizendo que eu estava ‘pagando para trabalhar’, afirmando que eu deveria sair e foi o que fiz”, confessa.

M.B. começou a trabalhar cedo, desde os 17 anos de idade, após morar sozinha. Por isso, ela tem dificuldade em se ver numa situação de desemprego, mesmo tendo surgido oportunidades de trabalho. “Ele não acredita que possa dar certo, e eu fico presa e sem rumo. É difícil não ter o apoio dele, que ele acredite em mim e que me veja como eu realmente sou”, lamenta a enfermeira.

Para a psicóloga Abelívia de Lima, o fato de mudar é parte da vida, mas é preciso avaliar o contexto em que as mudanças ocorrem, a motivação e principalmente a espontaneidade. “É muito comum que mulheres operem verdadeiras transformações na vida com o único objetivo de agradar ao companheiro. O perigo é essa dedicação afastar essa mulher de sua própria essência”, alerta.

A psicóloga chama a atenção também para outro aspecto, nestes casos em que a mulher cede demais e aceita mudanças na própria vida, apenas no ímpeto de agradar aos anseios do companheiro. “Quando a mulher altera sua forma de proceder e suas atitudes em prol do relacionamento, invariavelmente se arrepende, porque mais cedo ou mais tarde ela percebe que fugiu à naturalidade e pode ser o caso de buscar ajuda profissional”, pontua.

Por conta do controle do marido, a enfermeira M.B. revela que abriu mão de várias oportunidades de trabalho por entender que não estaria na concepção dele. “Amigas me chamaram para fazer parcerias e eu não fui. Mas, hoje, eu acredito que não foram decisões acertadas. Penso que se eu fosse solteira ou mesmo divorciada minha vida seria outra. Eu seria dona do meu destino”, diz.

Com o intuito de encontrar um equilíbrio entre manter o relacionamento e ser feliz na caminhada da vida, M.B. tem buscado ajuda e conforto em aspectos espirituais. “O que me faz sentir melhor é um encontro religioso que participo toda semana em cerimônias de umbanda. Através deles, venho me descobrindo e acalmando meu coração”, desabafa.

Libertação

O caso de Paula Reis, 44, volta-se para a relação amorosa em si. Paula tem uma rotina puxada e consegue conciliar duas profissões no dia-a-dia. Ela é autônoma e, após anos de experiência nas áreas, atua tanto como promotora de eventos quanto como chef de cozinha. Bem cedo está de pé e até retornar para casa, que fica no Bairro do Paz, onde cuida dos quatro filhos, já é pela noite.

Porém, esse cenário de mulher independente e forte não a impediu de entrar em uma relação amorosa que quase modificou a rota de sua vida. O calor e desejo naturais do início, em pouco tempo, deram lugar a um mar de decepções. “Descobri diversas traições e após suportar por um tempo, decidi terminar o relacionamento definitivamente”, afirma.

Ela pontua que foi uma decisão difícil porque o amor ainda estava ali, mesmo quebrado, mas que era necessário agir para manter a dignidade. “A mudança é válida em qualquer relacionamento. Entretanto, é saudável ir até onde a gente não perca a essência, nem a feminilidade e nem a coerência”, ressalta.

Paula se considera uma mulher feliz e aberta a novas possibilidades no amor. “Eu dei um basta porque se continuasse iria passar por cima da minha identidade como pessoa e mulher. Nunca mudei o modo de me vestir ou de me comportar para agradar a ninguém. Quando a entrega não é recíproca, a gente tem que pular fora. Hoje estou livre e leve, de bem com a vida”, celebra.

Relacionamentos tóxicos

Flerte, paquera, namoro. Os relacionamentos afetivo-amorosos começam assim, quase sempre da mesma forma, inclusive os relacionamentos tóxicos. O início é semelhante, porém os abusadores logo vão seguir um padrão de comportamento, que nem sempre as mulheres vão perceber. Então, para não cair em uma armadilha é preciso fazer, inicialmente, uma autoanálise. Para isso, é preciso levar em consideração os aspectos da relação, não apenas físicos ou sexuais.

O relacionamento tóxico pode ser resumido pelo desejo de controlar a parceira, de tê-la apenas para si. Esse comportamento surge aos poucos, sutilmente, e vai passando dos limites, causando sofrimento e dor. “Caso a mulher perceba a manipulação do parceiro, é preciso criar estratégias para se afastar. Para tanto, é preciso apoio e convicção da decisão”, ressalta a psicóloga Abelívia de Lima.

De acordo com a psicóloga, para manter-se firme na decisão é fundamental evitar confrontos e se preparar para possíveis apelos do parceiro. “Nessa altura a pessoa tóxica costuma reconhecer que estava agindo errado e faz promessas de se tornar alguém melhor. É preciso estar segura e não deixar que o outro remova sua convicção”, destaca.

Em resumo, para sair de um relacionamento tóxico é preciso aceitar que está dentro de um. Depois, construir um sistema de apoio, deixando as pessoas se aproximarem e ajudarem. E, por fim, investir em autoconhecimento, para conseguir enxergar o que a fez escolher e se manter em um relacionamento abusivo. Isso pode ser feito através de exercícios como escrever, ler livros de autoajuda, e buscar ajuda de um profissional para ressignificar o que foi vivido e construir um futuro melhor para as próximas relações.

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