– Por Sinara Dantas, psicoterapeuta, Pós-doutoranda em família e pesquisadora da conjugalidade
A mulher contemporânea que chegou à maturidade – na faixa etária entre 30 e 40 anos, tem uma visão mais ampla e segura do estilo de vida que deseja ter. Elas aprenderam a ser generosas consigo mesmas e se cobram muito menos, porque aprenderam a iniciar o processo do autoconhecimento mais cedo, diferentemente de suas mães e avós.
Maternidade
O desafio de encontrar a medida exata entre a mãe ideal e a mãe real; a mãe “suficientemente boa”, como nos traz o psicanalista Winnicott, tem deixado muitas mulheres instáveis emocionalmente, levando-as a buscarem capacitações sobre parentalidade. As novas demandas dos filhos as estimulam a buscarem leituras, lugares de escuta e de trocas e até se matricularem em cursos e rodas de conversa com pessoas que estão vivendo os mesmos dilemas e que priorizam um tempo de qualidade com seus filhos. É como se, a cada filho, o pai e a mãe precisassem aprender a ser pai e mãe, se reinventar.
Nesse sentido, os pais dos colegas dos filhos, na escola, têm servido como rede de apoio emocional. Por tantas questões conflituosas, a decisão de postergar a maternidade, ou de seguir a vida sem procriar é cada vez mais comum entre as mulheres que definem querer priorizar outras áreas em sua via. Seja pela responsabilidade que os filhos trazem, ou por não desejarem ter a liberdade comprometida, por questões financeiras, ou até mesmo por não gostarem de crianças, essa opção tem sido cada vez mais comum entre os casais. Um movimento que ganhou o nome de “child-free”, traduzido como “livres de crianças” ou “sem crianças”, e se refere a pessoas que, voluntariamente, escolhem não ter filhos. Apesar de causar estranheza, nos últimos anos as pessoas estão falando mais abertamente sobre esse assunto.
O chip da beleza
Mesmo com todo o caráter paradoxal que este assunto traz, e, antes de tudo, excluindo as prescrições anabolizantes e para fins estéticos, que divide opiniões, é importante reconhecer o quanto os implantes hormonais, que ganharam um nome popular conhecido como chip da beleza (pelas vantagens estéticas secundárias, percebidas por quem tem indicação de reposição hormonal, que são potencializadas quando aliadas a hábitos saudáveis) têm validado a sexualidade da mulher moderna.
Estamos vivenciando uma (r)evolução sexual da meia idade, em que as atitudes femininas denunciam não estarem mais tão mergulhadas somente no universo da beleza ideal, em que as mídias estabeleceram um padrão de corpos quase sempre inatingíveis e rostos esticados. Os tão procurados implantes hormonais podem ser considerados, em função desse novo pensamento, um dos marcos simbólicos interessantes das transformações de postura do feminino em torno de fazer valer os seus desejos como tão importantes quanto os dos homens, que ilustra o movimento pela equidade de gênero.
Essas reposições hormonais, que muitas vezes ocorrem nessa fase da vida, têm conferido às mulheres uma maior segurança e transformação na forma de enxergar a imagem dos seus corpos, servindo-lhes como fonte de empoderamento, e gerando, no masculino, uma nova forma de ser e de estar nas suas relações, melhorando a disposição dos casais, a libido, o humor e, principalmente, a motivação em investir na vida sexual.
Carreira
O aspecto mais importante da carreira é que essas mulheres, que são mais independentes, têm a liberdade de tomar as rédeas do rumo das suas relações amorosas, caso o vínculo não as esteja mais satisfazendo como idealizaram. Hoje, investem em atuações que lhe confiram prazer; trabalhar com o que gostam e as deixa realizadas. Muitas buscaram empreender, para garantirem um tempo maior para o convívio familiar. Outras, associaram algumas aptidões que estavam adormecidas, como habilidades artísticas ou culinárias, que sempre tiveram, mas nunca haviam pensado nelas como fonte de renda extra. Já percebeu a quantidade de mulheres de classe média que começaram a vender o que, anteriormente, produziam apenas para os parentes próximos? São velas aromáticas, doces, bolos, artigos em crochê e outros tantos produtos artesanais que lhe conferiram maior liberdade financeira.
Vida amorosa
Esse tem sido um aspecto primordial na condução de suas vidas, porque a mulher moderna se sente responsável por suas escolhas e pelas consequências delas. Então, estão mais criteriosas ao se envolverem e buscam pessoas que cheguem para somar e multiplicar. Muito embora, ainda aconteça a idealização por alguém que possa dar conta das suas frustrações pessoais, historicamente ainda não resolvidas com as suas famílias de origem. Algumas, infelizmente, ainda chegam nos relacionamentos amorosos projetando no outro o compromisso de completude, que se arrasta, deixando rastros de histórias vividas por suas mães e avós. Na prática, assistimos muitas delas carregando o peso do relógio biológico da maternidade e dos sonhos de casamento, mesmo que os seus discursos demonstrem desapego a tudo isso.
Rotina
Um dos principais desafios na rotina da mulher contemporânea tem sido administrar o desempenho dos seus múltiplos papéis, sem se deixar afundar num mar de autocobranças, insatisfações e queixas. Muitas mulheres passaram a se redescobrir a partir de práticas de autoconhecimento e autocuidado. Acrescentaram a meditação na sua rotina diária, priorizaram a prática de exercícios físicos, se movimentaram para investir na sua espiritualidade e incluíram a terapia como um item na sua rotina. Além de todo investimento em estética, que, com a grande oferta de possibilidades, também tem sido algo considerado terapêutico, que repercute além dos seus corpos, lhes garantindo a sensação de mais prazer, do que culpa em estarem ‘deixando de lado’ sua família ou seu trabalho. Nesse aspecto, os gastos são considerados um grande investimento, pelos resultados de satisfação que são sentidos por toda a família.